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Manoel Soriano Neto
A problemática Indígena (IV)
Aspectos Históricos e Sociológicos de Relevância
A causa indígena remonta aos tempos do Brasil- Colônia. Deve-se, de início, fazer menção à Igreja Católica, particularmente aos jesuítas da Companhia de Jesus, que, desde o século XVI, deram, à sua maneira, proteção aos aborígines, tudo fazendo para livrá-los da escravidão e da perseguição praticadas por não-índios. Histórico e extraordinário foi o apostolado catequético dos lendários padres José de Anchieta, Gabriel Malagrida e Antônio Vieira. Impende lembrar, no entanto, que o isolamento dos indígenas em reduções (cujo maior exemplo foi o povoamento dos Sete Povos das Missões, no RS), a instituição de hábitos e costumes católicos, e, principalmente, a criação de uma língua própria - o “nheengatu” -, não foram benéficos para a integração nacional, como assinalam estudiosos de real nomeada, entre eles a Professora Aileda de Mattos Oliveira. Somente com a intervenção do notável Marquês de Pombal, que ordenou a expulsão dos jesuítas e impôs a obrigatoriedade da língua portuguesa, deu-se início a um lento processo integrativo dos silvícolas ao todo nacional, como asseveram historiadores de tomo e os principais explicadores do Brasil. Digno de nota foi também o processo de evangelização desenvolvido por sacerdotes missionários franciscanos, salesianos, dominicanos, capuchinhos e outros, máxime na Amazônia. Tal processo foi a gênese da assimilação (controvertida, na visão de muitos) indígena à civilização trazida pelos portugueses, assimilação essa que correntes neo-humanistas (tendo à frente a FUNAI, o CIMI, o CIR, ONGs nacionais e estrangeiras e diversas outras instituições) vêm duramente criticando, mercê de seu viés religioso-evangelizador. Entretanto, pugnam pelo mesmo segregacionismo adotado pelos jesuítas, em tempos prístinos...
A causa em comento, hoje umbilicalmente ligada à ambientalista e à dos ditos “movimentos sociais”, foi percucientemente estudada e vivenciada por eminentes brasileiros e estrangeiros, por meio dos mais diferentes prismas. É mandatório destacar-se: o Marquês de Pombal, com seus robustos “Relatórios a El-Rey” (Dom José I, de Portugal); José Bonifácio, um dos maiores adeptos da tese de integração dos índios à comunidade nacional; o escritor José de Alencar e os poetas Gonçalves Dias e Basílio da Gama, inspiradores do “indigenismo”, uma das correntes da literatura brasileira; os escritores Gilberto Freyre e Antônio Calado; os sertanistas irmãos Villas Bôas que deixaram a selva no ano de 1978; o etnólogo Darcy Ribeiro; os cientistas e pensadores Lévi Strauss, Kurt Unkel e Von Ihering; o médico Noel Nutels, e tantos outros, enaltecidos por biógrafos, memorialistas e apologistas. Entretanto, o mais gigante deles foi o insigne Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, Chefe do Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Ele labutou com afinco, naquele órgão, afirmando, desde sempre, que o fazia, “para a realização do sonho de José Bonifácio”, na formulação de uma política, cujo escopo era a “incorporação definitiva e espontânea do índio, à civilização brasileira” (aduza-se, que altos próceres da FUNAI, demonstrando total desconhecimento histórico, vêm distorcendo o pensamento do ínclito “Marechal da Paz”), que sempre lutou, com muito afã, pela aculturação dos indígenas! O seu lema em relação a estes: “Morrer se preciso for; Matar, nunca!”.
Voltaremos ao assunto, mas queremos, por final, destacar uma referência acerca de NOSSA Amazônia, da douta lavra do General Luiz Eduardo Rocha Paiva, no artigo “Caxias, O Filho que Orgulha o Brasil”, in Revista do Clube Militar, Out 2010, em que o autor lembra da “estratégia / guerra da resistência”, estudadas pelo Exército, desde 1994: “O militar, como qualquer cidadão, tem limites autoimpostos e não está livre de ter que tomar decisões graves e assumir as responsabilidades correlatas, se colocado diante de situações extremas, como, por exemplo, a soberania compartilhada na Amazônia por imposição de potências alienígenas. Nesse momento, deveria agir segundo mandam seu dever e sua consciência e não o interesse particular, ou a segurança pessoal, sendo a guerra de resistência, a opção de dignidade” (grifo nosso). Continua.]
Cel Manoel Soriano Neto – Historiador Militar e Advogado.