aman 62
(1912-2010)
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Os engenhos de cana –de- açúcar balizaram um dos capítulos do desenvolvimento econômico do país. Aqui na Bahia, a denominação referida pelas famílias tradicionais com origem no Recôncavo e fortuna advinda da atividade álcool-açucareira, é de usina/usineiro. Jandira Meirelles Mendonça era filha de um pequeno usineiro e, quando chegou à idade escolar, ela e o irmão foram para cidade de Cachoeira, às margens do Paraguaçu. Notabilizaram-se lá não pelo rendimento nos estudos e sim pelas aptidões aquáticas. Atravessavam o grande rio a nado, incentivados pelo povo que assistia debruçado na amurada da histórica ponte ferro-rodoviária , inaugurada que fora pelo imperador D.Pedro II. Coincidiu que um dia o pai foi visitá-los na cidade e ambos estavam em plena atividade no rio. A disciplina da época era a do corrião, que comeu solto no lombo dos dois. Ela relembrava com seus olhinhos faiscantes da surra e me disse que a prática do nado, que continuou a desenvolver, foi de muita serventia no trágico naufrágio do vapor Itacaré, em 23 de agosto de 1939,na barra do porto de Ilhéus. Jandira exercia suas qualificações de enfermeira diplomada em um posto de saúde de Ilhéus. Estava na faina diária com os doentes, sem se aperceber do alvoroço reinante, até que um afobado adentrou a sala dos curativos e contou o que estava acontecendo. Ela desceu para a praia, lançou-se ao mar e não sabe quantas travessias fez até o navio. Cada volta significou uma vida salva. (Da varanda da sua casa na vila dos ex-combatentes em Itapoã, onde conversávamos, apontou a de um vizinho do outro lado da avenida. Ele estava no vapor e ela o salvara. Depois ambos foram para a guerra e voltaram heróis.) Ficou noiva de Renato Mendonça, mais tarde proeminente radialista de Salvador. Apresentou-se voluntária para a Força Expedicionária Brasileira e foi adestrar-se no Rio de Janeiro. Casou-se por procuração e seguiu para o teatro de operações da Itália, cumprindo com notório desvelo suas obrigações até o final do conflito. Somente então, no seu retorno, o casamento foi consumado. Não foi mãe biológica, mas criou, amou e conduziu para a vida vários sobrinhos e afilhados. Chegou ao posto de capitão, prestando serviços no hospital militar do Exército, na Ladeira dos Galés. Nas operações de Ação Cívica e Social, desenvolvidas no âmbito da 6ª Região Militar, que inclui a Bahia e Sergipe, travei conhecimento com a dedicada profissional. A alvorada pra ela acontecia por volta das quatro da manhã, quando acionava sua equipe e todo o acampamento para os trabalhos do dia. Vê-la desfilando nas comemorações do Sete de Setembro, conduzindo com exaltado garbo o Pavilhão Nacional no grupamento dos ex-combatentes febianos, me emocionava. Chorão que sempre fui, não conseguia segurar... Jamais será esquecida.
Carlos Romeu Silva, Coronel Reformado do EB
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