Eu,
Luiz Alves de Lima, Duque de Caxias, achando-me com saúde e meu
perfeito juízo, ordeno o meu testamento, da maneira seguinte:
sou católico romano, tenho nesta fé vivido, e pretendo morrer.
Sou natural do Rio de Janeiro, batizado na freguesia de
Inhamerim; filho legítimo do Marechal Francisco de Lima e Silva,
e de sua legítima Mulher, dona Mariana Cândida Bello de Lima,
ambos já falecidos.
Fui casado a face da Igreja com a virtuosa dona Anna Luiza
Carneiro Viana de Lima, Duquesa de Caxias, já falecida, de cujo
matrimônio restam dois filhos que são Luiza e Anna, as quais se
acham casadas; a primeira com Francisco Nicolas Carneiro
Nogueira da Gama, e a segunda, com Manoel Carneiro da Silva, as
quais são as minhas legítimas herdeiras.
Declaro que nomeio meus testamenteiros, em 1º lugar, o meu genro
Francisco Nicolas, em 2º meu genro Manoel Carneiro, em 3º meu
irmão e amigo, o Visconde de Tocantins, e lhes rogo que aceitem
esta testamentária, da qual só darão contas no fim de dois anos.
Recomendo a estes que quero que meu enterro seja feito, sem
pompa alguma, e só como irmão da Cruz dos Militares, no grau que
ali tenho. Dispensando o estado da Casa Imperial, que se costuma
a mandar aos que exercem o cargo que tenho.
Não desejo mesmo, que se façam convites pro meu enterro, porque
os meus amigos que me quizerem fazer este favor, não precisam
dessa formalidade e muito menos consintam os meus filhos que eu
seja embalsamado.
Logo que eu falecer deve o meu testamenteiro fazer saber ao
Quartel General, e ao ministro da Guerra que dispenso as honras
fúnebres que me pertencem como Marechal do Exército e que só
desejo que me mandem seis soldados, escolhidos dos mais antigos,
e melhor conduta, dos corpos da Guarnição, pra pegar as argolas
do meu caixão, a cada um dos quais o meu testamenteiro, no fim
do enterro, dará 30$000 de gratificação.
Declaro que deixo ao meu criado, Luiz Alves, quatrocentos mil
réis e toda a roupa do meu uso.
Deixo ao meu amigo e companheiro de trabalho, João de Souza da
Fonseca Costa, como sinal de lembrança, todas as minhas armas,
inclusive a espada com que comandei, seis vezes, em campanha, e
o cavalo de minha montaria, arreado com os arreios melhores que
tiver na ocasião da minha morte.
Deixo à minha irmã, a Baroneza de Suruhi, as minhas
condecorações de brilhantes da ordem de Pedro I como sinal de
lembrança e a meu irmão, o Visconde de Tocantins, meu candieiro
de prata, que herdei do meu pai.
Deixo meu relógio de ouro com a competente corrente ao Capitão
Salustiano de Barros Albuquerque, também como lembrança pela
lealdade com que tem me servido como amanuense.
Deixo à minha afilhada Anna Eulália de Noronha, casada com o
Capitão Noronha, dois contos de réis. Cumpridas estas
disposições, que deverão sair da minha terça, tudo o mais que
possuo será repartido com as minhas duas filhas Anna e Luiza,
acima declaradas.
Mais nada tenho a dispor, dou por findo o meu testamento,
rogando as justiças do país, que o façam cumprir por ser esta a
minha última vontade escrita por mim e assinada.
Rio de Janeiro, 23 Abr 1874 -
Luis Alves de Lima
Duque de Caxias.
"Em nome de DEUS. Amém".