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SER CRIANÇA |
Nilo Cardoso Daltro: 17 de outubro de 2009 |
Ao ver, da janela de meu quarto, crianças correndo, brincando, nadando na piscina despreocupadamente, retroagi à minha infância e, com saudades, lembrei-me daquele período da vida que era estouvado e não levava as coisas a serio; tudo era motivo para brincadeiras, criancices, risos marotos e indagações. Morávamos em uma casa com um grande quintal, numa rua sem calçamento e ora brincávamos entre as arvores frutíferas, ora na rua pulando amarelinha, jogando bola de gude ou bola de meia, enquanto as meninas e os meninos mais novos brincavam de roda, cantando “ciranda cirandinha” e “atirei o pau no gato” repetitivamente. Eu e os amigos de mesma idade estudávamos na parte da manhã e depois do almoço sentávamos no meio fio da calçada para conversar sobre o que havíamos descoberto na escola, em casa ou ouvindo conversas de gente grande. Cada um fazia questão de falar mais para mostrar que estava sabendo “das coisas”. Quando estava dentro de casa ou na casa de meus avós sentia a satisfação deles com minha presença e a de meus irmãos e primos, éramos a alegria da casa embora fossemos responsáveis por bagunças, desordens em geral e sujeiras por todo canto. Naqueles tempos não havia televisão nem jogos eletrônicos e piscina, só no clube nos fins de semana. O mundo evoluiu e algumas crianças ganharam bicicletas de freio no guidom enquanto outras tinham a alegria de ganhar um jogo de raquetes com bola de ping-pong ou até uma bola de futebol de couro. No mês de junho a farra era grande, pois as avós preparavam canjiquinha de milho verde, pé de moleque, paçoca, milho cozido, bolo de milho, doces de abóbora e de batata doce e em frente às casas eram armadas fogueiras que ardiam à noite inteira e onde os pais assavam batata doce e espigas de milho verde. O Natal era a data mais esperada para os meninos ganharem bolas, brinquedos de fricção ou de corda e as meninas ganhavam bonecas de todos os tipos, casinhas de boneca, cozinhas e móveis em miniatura, alem de estojos de manicure, de beleza e de apetrechos para brincar de mãe. No dia seguinte íamos mostrar, na calçada, nossas conquistas e brincar com as novidades em harmonia, alegria, contentamento e envaidecidos. Quando vou ao playground com meus netos, eles estão em meu apartamento usando o computador ou vou a pracinha com eles vejo novos brinquedos, novas formas de lazer, mas vejo o mesmo espírito infantil, as mesmas bagunças, as mesmas desordens e sujeiras, o mesmo estouvamento, o mesmo riso maroto e as conversas de pé de ouvido, afinal são crianças, são a alegria da casa, nos proporcionam o equilíbrio emocional. Eu digo a cada um dos netos que o que eles fazem é nada mais nada menos do que “ser criança”.
Nilo Carboso Daltro |