Caros amigos,
Sou de um tempo, e ainda faz tempo, que andava pelas ruas de minha cidade, menino de curtas calças, sapato fanabô, ou de bico cortado, para frequentar programa de auditório na PRE-9, no quintal de minha futura sogra, ao lado da residência da família Caracas. Havia um garoto sucesso para os padrões da época, chamado pequeno Ayrton, no programa do João Ramos. Lembro a figura de bigode, voz impostada, e eu sentado em pequena sala, chamada de auditório, em cadeiras de madeira pretas, semicirculares, num espaço que, hoje, seria de uma sala de apartamento de rico. Naquele tempo, e já faz tempo, gostava de Nelson Gonçalves e que, até hoje, ouço e interpreto suas músicas. Sou de um tempo, e já faz tempo, em que para ajudar a cirurgia das filhas de meu Capitão, possuía em Natal-RN, um programa chamado Cesar Romero e a noite, na rádio Trairí de Natal. Sou de um tempo e já faz tempo,de paixões platônicas pelas artistas de cinema ou amores por meninas da minha rua que não ousava pegar em suas mãos. Sou de um tempo em que minha mãe aconselhava não frequentar a Rua Franco Rabelo, pois era fonte de "chatos" e gonorréias. Sou de um tempo e já faz tempo, em que o vício era fumar cigarro Camel, Luck Strike e Continental. Bebida era cuba libre e cachaça. Sacanagem era pegar na mão da garota. Sou de um tempo e já faz tempo, que diversão era soltar arraia, jogar cabsolinha, bola de meia, comer galinha, masturbação com o pensamento em Tônia Carrero. Sou de um tempo e já faz tempo, da brincadeira do pau de merda, de jogar triângulo na Praça José Bonifácio, de enterrar gato e no inverno fazer barquinho de caixas de fósforos para correr na coxia. Sou de um tempo, e já faz tempo, em que respeito era pedir "Bença Pai Bença Mãe".Que religião era ,aos domingos, assistir a missa na Igreja do Carmo, rezada pelo padre Pedro, de batina preta, e receber a santa hóstia em jejum. Sou de um tempo e já faz tempo, que segurança pública era o guarda noturno com seu apito nas madrugadas, que o transporte era o bonde. Sou de um tempo e sonho até hoje, de minha casa passar a noite de portas abertas e cadeiras na calçada e amanhecer o dia para pegar a garrafa de leite no portão.
Sou de um tempo, que não mais verei, mas morrerei com saudosas lembranças.
Paulo Castelo Branco