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HISTORINHAS DE SALA DE AULA


João Bosco Camurça

Numa certa manhã, numa sala de aula de um estabelecimento de ensino militar, a aula de geometria plana prosseguia com o professor à frente, no quadro, desenhando suas épuras, retas e projeções, e de vez em quando, dentro da explanação, fazia pergunta aos seus alunos.

A turma estava concentrada no assunto pedagógico, na explanação, naquela matéria que parecia ser “feixe”. De repente, ouviu-se em destaque um aluno falar um pouquinho mais alto e com emoção:
- GOL!...
Incontinenti, o professor parou tudo, virou-se para a turma e perguntou:
- Quem gritou gol? Repetiu de novo:
- Quem gritou, quem falou alto – gooool!?

Ninguém se acusou. Ninguém se manifestou. Os alunos que estavam calados continuaram calados e forçando a atenção na cópia da matéria lecionada. Mas, ninguém se manifestou, ninguém esboçou o mínimo gesto de se levantar e dizer “Foi eu”. Não houve nada mais do que o silêncio corporativo...

Agora a coisa ia ficar braba: o professor mandou o chefe de turma assumir e saiu para o passadiço. E, disse à janela, olhando para o interior da sala:
- Vou chamar o Oficial de Dia. E caminhou para a sala do Oficial de Dia.

Minutos depois, estavam os dois de volta. Perguntado quem tinha sido o aluno que gritara gol, ninguém se apresentou. Então, o oficial de dia falou:
- No intervalo das aulas, no próximo intervalo, toda a turma em forma na Alameda 1° de Junho. Como faltavam poucos minutos para o término das aulas naquele bloco, ele ficou esperando por ali mesmo. De repente, toca a campa. Os alunos se levantaram e entraram em forma conforme fora determinado, sob o comando do Chefe de Turma:
- Pronto, Tenente, Turma em forma.
- Turma apresentada! E começou a preleção. Por que isto, por que aquilo, aqui neste Colégio, a tradição, a moral... E, foi falando, falando até se esgotar os dez minutos de intervalo. E a turma nada de se manifestar, ou melhor, o entusiasta ouvinte não apareceu sob a cumplicidade dos colegas, calado estava, calado ficou. Acompanhado de um por um, o Oficial de Dia fez a maior revista de carteiras que já houve naquele Colégio: o rádio não foi encontrado.

Os dois outros tempos formavam uma aula dupla. Mas, o Oficial de Dia deu por bem avisado que após aquele bloco, a turma entraria em forma no mesmo local. Foi dito e foi feito. Ao meio dia, ainda quem em espaço sombreado, mas sob um calor sufocante, a turma entrou em forma. O Tenente exigiu imobilidade absoluta... Silêncio absoluto. Dez minutos pra torrar a paciência de qualquer um. Para se ver o que era uma Turma unida: nunca tinha acontecido nada igual, mas a solidariedade surgiu espontaneamente. Calada estava, calada ficou.

A estas alturas, o nobre Comandante já sabia do ocorrido e foi até a sala de aula. Recebeu as continências de estilo, pediu alguns minutos ao professor e exprobrou os sentimentos da Turma: “que aquilo era uma pixotada, não podia ser aquele silêncio conivente e que se não aparecesse o responsável, todos seriam suspensos”. E saiu.

As aulas prosseguiram. Nos intervalos, formatura com ordem unida. Ou com imobilidade severa. A Turma calada estava, calada continuou. A suspensão anunciada foi executada no meio da semana.

Os tempos passaram. Anos depois, esta cena se deu no Aeroporto Pinto Martins, na área de desembarque de quem vinha do estrangeiro. Um sujeito barbudo e de forte compleição foi barrado: revista de malas. Estava armada a cena.
- Doutor, o que é que o senhor tem nas malas? Abra a mala! A fala foi ríspida. A resposta foi mais contundente:
- Abro, não!
- Abre, não abro e ficaram minutos tensos. E logo se formou uma turma de curiosos. /
- Abre, não abro!

Quando a coisa estava para estourar os ânimos, o barbudo pergunta para o Fiscal:
- Onde diabos você escondeu aquele radio... Do Gol! Do goooool, cara.
O fiscal ficou estupefato:
- Quem é o senhor?
- Eu sou o 194! Fulano de tal...
E trocaram o maior abraço...
- Mas, diz aí, cara, onde você meteu aquele rádio?
- Ora, ora, atrás do quadro negro, naquele vão em que uma peça sobe e a outra desce... Fácil de mais!
As gargalhadas estouraram e os curiosos nada entenderam!