Há uma aura de
luz ao fundo e sobre ela, nuvens e nuvens em
outro plano,
transparentes como fossem
véus, a tentar esconder a nudez desse engano
outra vez vivido e revivido na ânsia de
encontrar o que não está perdido,
e
reconheço, um a um, nos céus dos desenganos,
cada amor que foi fingido.
A cada passo
dado, prendo-me a esse lugar, e eu tento não
estar preso.
Mas se avanço, mesmo assim
estou parado, pois ao carregar meu
peso,
o que a um segundo era um vôo em
pleno ar, um segundo após, é um
lampejo,
e sinto os pés enraizados em uma
daquelas nuvens, e sei que é seu beijo
o
que sinto em minha boca enquanto solto, agora,
sem qualquer razão,
nada mais quero que
vê-la, mas qual, há um mal qualquer que me
diz:-Não!
E não escondo este meu zelo, em
não confessar que de ti ouço um
apelo,
uma voz sussurrando em minha alma,
e nego-me a ouvi-la, por não
querê-lo,
pois sinto um cansaço
aprofundado, quando penso em longas
caminhadas,
e me fogem, num repente, as
imagens que na mente me lembram teu
regaço
Não consigo sair deste torpor, por
maior seja o esforço, e, Deus, então que
faço?
Ouço um voz que vem de dentro da
alma, um anjo a me chamar, a me chamar
na
inconsciência permitida a cada dia, sinto a vida
a me chamar, a me chamar.
E eis que aos
poucos as nuvens fazem-se, cada vez, mais e mais
ralas,
e não há mais o cansaço, mas o que
ouço agora é a voz com que me
falas,
enquanto cada vez mais claro ouço
o teu doce chamar, o teu chamar.
E a
vida, pouco a pouco, aparece na aura de um sol
de tímido brilhar,
e tu, a brincar sobre
meus olhos, véus que ainda cobrem tua
nudez
como nuvens e nuvens de um plano em
minha mente,que agora se refez
enquanto,
um a um, reconstruo sentimentos que, feliz,
então, reponho,
amando a Vida por me
amares e, por ser Vida e, não, apenas sonho.
Autoria: Hiram Câmara Rio de
Janeiro - RJ - Brasil Todos os direitos
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