Com a metade do tempo que se almeja,
já vivida,
pode- se intuir Deus nos limitar
a apenas uma das mãos, a afetiva,
para reconhecermos amizades
decantadas toda a vida.

Talvez seja a razão
dele nos permitir ver essa mão,
liberta, em noite insone,
gestual de conversa ao telefone.

A destra, lógica e prática,
ocupa-se, passiva,
em empolgar o aparelho.

Aos canhotos - por divina concessão-
o uso da esquerda é o conselho.

O caderno de endereço
É pródigo de nomes que conheço.
São conhecidos,
camaradas, companheiros.
Embora excedam o que mereço,
Deus me fez sóbrio
de amigos verdadeiros.

Serei grato, sendo cinco,
dos que não se cora
ao se estreitar ao peito,
e dos quais emerge, a seu jeito,
a consciência fiel da irmandade.

E ao pensar na contagem
para a grande viagem
que medeia terra e céu,
imagino-me na metade
da vida que desejo,
a tempo de auscultar -lhes
alma e coração, via Embratel.

É quando os sinto, um a um,
libertos das falsas amizades
e dos concretos medos.
Amigos fraternos ali estão,
Saldos fiéis de nossas vidas
e eu os tenho sempre à mão.

Deus os fez amigos,
presenças queridas
a encantarem
cinco de meus dedos.


Autoria: Hiram Câmara
 Rio de Janeiro - RJ
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Biblioteca Nacional

 


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