No ar
suspenso como um móbile imobile apenas um
instante, reflete o que penso: um
grito.
Irrompeu em glória, na esperança do
guerreiro, da alma audaz de um soldado, a defender
um pedaço da Humanidade, de outro tão jovem
soldado, a defender seu quinhão da Humanidade. E
na premência da vitória, vem do interior de cada um
e como num "boot", se congela, como um mito, na
distância percorrida em um segundo, entre a Morte
e a Vida.
Irrompeu em desespero, num repente,
da alma sofrida de um doente, e cortou o ar
afora, anunciando sofrimento, pedindo
socorro, na premência de ir-se embora, e agora,
parado no ar, cristalizado na dor que se
esvai, como um punhal cravado nas costas da
Ciência.
Irrompeu como alerta, clamando que a
porta estava aberta para a insensatez , mas desta
vez, ninguém lhe deu ouvidos. Era como um estilete
fino que cortasse anestesiados: ninguém lhe deu
ouvidos. A Vida fez o que tinha de fazer e fez
girar a roda, para que outro dia começasse. Mas o
dia não começou e fez-se noite. E o vento-açoite
engoliu-o como um sapo engole o alvo mosquito e
gravado na mente ficou-lhe, somente, o
grito.
Irrompeu como um vulcão. E foi assim
tão inesperado, que nenhum dos outros
percebeu que era seu, o grito tão calado. Mas era
um grito de paixão, e paixão tão desvairada, como
flecha incendiada, vasou céu e diluiu-se em
estrelas. E, então só de vê-las, absorvo a sua
energia e por assim sabê-las parte de tua alma tão
distante, quero ver-te entre elas, e falar-te ao
mirá-las. Mas, qual, como ouvir-me? Foi então que
compreendi, que aquela energia da alma do
guerreiro, do sofredor, do responsável, se
integra no universo, e nos vem dentro do peito.
E, é, desse jeito, que você ouve meu grito em
silêncio, neste verso.
Autoria: Hiram Câmara
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