No ar suspenso
como um móbile imobile
apenas um instante,
reflete o que penso:
um grito.

Irrompeu em glória,
na esperança do guerreiro,
da alma audaz de um soldado,
a defender um pedaço da Humanidade,
de outro tão jovem soldado,
a defender seu quinhão da Humanidade.
E na premência da vitória,
vem do interior de cada um
e como num "boot", se congela,
como um mito, na distância percorrida
em um segundo,
entre a Morte e a Vida.

Irrompeu em desespero,
num repente,
da alma sofrida de um doente,
e cortou o ar afora,
anunciando sofrimento,
pedindo socorro,
na premência de ir-se embora,
e agora, parado no ar,
cristalizado na dor que se esvai,
como um punhal cravado
nas costas da Ciência.

Irrompeu como alerta,
clamando que a porta estava aberta
para a insensatez , mas desta vez,
ninguém lhe deu ouvidos.
Era como um estilete fino
que cortasse anestesiados:
ninguém lhe deu ouvidos.
A Vida fez o que tinha de fazer
e fez girar a roda,
para que outro dia começasse.
Mas o dia não começou e fez-se noite.
E o vento-açoite engoliu-o
como um sapo engole o alvo mosquito
e gravado na mente ficou-lhe, somente,
o grito.

Irrompeu como um vulcão.
E foi assim tão inesperado,
que nenhum dos outros percebeu
que era seu, o grito tão calado.
Mas era um grito de paixão,
e paixão tão desvairada,
como flecha incendiada,
vasou céu e diluiu-se em estrelas.
E, então só de vê-las,
absorvo a sua energia
e por assim sabê-las
parte de tua alma tão distante,
quero ver-te entre elas,
e falar-te ao mirá-las.
Mas, qual, como ouvir-me?
Foi então que compreendi,
que aquela energia
da alma do guerreiro,
do sofredor,
do responsável,
se integra no universo,
e nos vem dentro do peito.
E, é, desse jeito,
que você ouve meu grito
em silêncio, neste verso.

 

Autoria: Hiram Câmara
Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Biblioteca Nacional

 

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