Hoje, depois da agonia, fogueiras crepitam como dores

E as cores das labaredas de fitas soltas que se entrelaçam

Sobem como sonhos desfeitos que se despedaçam

Em lâminas finas, e ao ganharem os espaços viram flores

Que escapam ao alcance das mãos e da alma dos poetas.

Assim é quando os anjos emitem sons –choros de perdas

E as lágrimas descem as sinuosidades do rosto, lerdas,

Repousando em lago de sal amargo, e ali morrem quietas.

É como se um decreto obrigasse o amor a ser sofrido,

Pena perpétua eternizada no mal que faz quando se finda

E é esse o motivo porque querem que nesta noite dos amores

Mortos, fitas se soltem como chamas de um lamento dorido,

e se despedacem como quem cai de um sonho destruído.

O decreto está firmado no congresso da dor e falta ainda

Que se faça um estoque extra de lágrimas -verdade,

Que ao descerem a sinuosidade do rosto incandescido

Já não desçam ao lago amargo, e assim, vivam quietas,

Nas almas em labaredas frias, de quem viu o amor ferido

Esvair-se em frases entrelaçadas em gelo, chama e sonho.



Hoje, depois da agonia, descobri que seu amor tinha morrido.
 

 

Autoria: Hiram Câmara
Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Biblioteca Nacional

 

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