Na bruma, o vulto vaga,

barco a buscar porto seguro e acolhedor.

Ao tocar, parecendo terra firme,

é, no entanto, ar.


Ei-lo a voar e nem percebe

a ponta da alma, ainda há pouco,

a tocar - apenas uma , a distraída -

a resistência da incerteza do percurso

ainda a caminhar, no tempo-vida.

Inesperado, este tropeço em curto espaço.

É passo morto, e logo outro e outro mais.

Já não pensa, mas existe!

E sente, ah, como sente.

Antes ágil, barco sem porto,

pássaro sem asas, fez-se frágil:

no novo habitat não pressentido,

vaga ao ar, ainda assim, insaciável.

Sem as amarras da racionalidade,

sem alertas a acionar suas defesas,

Equilibra-se na base mais instável.

Mas, que é a estabilidade do equilíbrio,

Em presença do amor, bruma envolvente?

Se ela penetra coração e mente,

e faz-nos crer no que é por nós sentido,

Vermos abstrato onde é concreto,

ouvirmos sinos de Notre Dame

onde é quieto.

Sendo tão cegos quanto a Justiça deveria,

e Quasímodos que somos,

surdos aos apelos do Juízo ou da Razão.

O vulto faz-se límpido e nítido

como um ser humano.

Sem mais o receio de um aprendiz,

cria alegria onde eram a tristeza e o desengano:

descobre-se amando e é feliz!


Autoria: Hiram Câmara
 Rio de Janeiro - RJ
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Biblioteca Nacional


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