Os braços se abrem, e no templo reverente de suaves portas

Estreita-se a emoção, e tão firme é o laço, que decerto

as duas vidas parecem apenas uma, assim, vistas de perto.

Tudo enfim tão de repente que as linhas se fazem tortas

como Deus as grafa, embora pretendesse escrever certo.

E faz-se a paz e o silêncio de um verdadeiro sentimento.

Inicia o adágio e o "pas-de-deux" é tão limpo e tão perfeito

Que lembra as vidas daqueles que se amam, sem enganos.

Ele a ampara e ela se esmera, leve qual o sonho dos insanos,

E como tal, solta-se em vôo breve, e, suave, toca-lhe a emoção.

Re-pousa-se mansa, então, no coração e re-colhe-se nesse relicário.

Porém, não é tão precisa a coreografia de sua vida e é necessário

Improvisar , na amplidão do palco do desejo manifesto.

E se o som se cala e o par perde o compasso, é necessário

Criar em sua alma a música, o passo certo, e o gesto ansiado.

Mestre não há senão a intuição, energia da criação feminina,

E ali, como uma pluma, roça leve a pele de seu par, em encanto.

E com a ponta suave de seus dedos, sobrevoa a arte de amar,

ave a brincar em céu aberto. Foi, então, que o par enfim decerto,

interpretou o verso do Poeta " dançar no seu corpo, feito bailarina"

em delírio, um "pas-de-deux", sutil e docemente apaixonado.
 


Autoria: Hiram Câmara
 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Biblioteca Nacional

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