“(Vital é ter uma Rainha.
Como Isabel, de Castela,
Senhora de imenso latifúndio,
Meu coração, que é só dela,
Sem o crer, sem o saber)”.

 

 

 

“Servo, sirvo à Corte de Castela
longe vão os meus pensares,
e por servir só a ela,
levo o Amor por esses mares,
outros sonhos, outros bares,
a saber , o coração alerta,
onde a Verdade erra
e onde a Verdade acerta”.

 

 

 

 

 

“Volto então à minha Rainha,
Sem querer ser dono ou Rei.
Sinto-me ante o fracasso,
Como um piloto sem braço.
E entrego-me em suas mãos”.
“A Missão não foi cumprida:
a alma é despedaçada:
A viagem pretendida
Circunavegando a Vida,
jamais será completada”.
“Guarde pois, o meu tesouro,
Antes que me leve a Sorte,
Mesmo que a desmereça,
Mais do que a tive em Vida,
Ao navegar pela Morte:

(Mas é vital, ao mesmo tempo,
navegar rumo ao seu mar,
caminho de meus caminhos,
sem saber onde ou por onde,
sob o sol pleno do Amor,
ou na doce escuridão
em que a Saudade se esconde.
Ouvindo a bater da água,
no bater do coração
já dorido de tanta mágoa)”.

“Louco sou,
Mas só um pouco,
Pois à Hispaniola cheguei.
Mas fui louco ao pensar,
que um dia seria Rei.
E em aventuras no mar
por três vezes me soltei.
Fui desprezado, aviltado,
Curtido de tanta dor,
por não atingir, nem de perto,
do Amor, o errado e o certo”.

“(Mas é vital, a um só tempo,
ser também servo e senhor.
Latiamante e latiamado,
Como se a posse da terra,
Fosse mais que a de seu corpo,
Sofregamente ansiado,
Na noite antes da guerra)”.

“É vital, minha Rainha,
romper as amarras em Palos,
porto de onde parto,
demanda de mim mesmo,
a redescobrir caminhos,
a esquadra pequenina,
para tão grande missão:
Santa Maria, Pinta e Nina,(o corpo, o espírito e a mente)
apontando para o Nada,
guiado por sua mão,
sou o meu próprio piloto
E Deus é meu Capitão”.

 

 

 

 

 

É vital, minha Rainha,
Crer o mundo redondo,
Embora plano pareça,
apoiar a viagem pretendida
embora eu pouco mereça,
de circunavegação da vida minha.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“É vital, minha Rainha,
Crer o mundo redondo,
Embora plano pareça”.

 

Autoria: Hiram Câmara
 Rio de Janeiro - RJ
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Biblioteca Nacional


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