A surpreendente vontade de contar o que vai na alma

o constante desejo de entrar por dentro da vida

e bisbilhotar o próprio destino como se fosse alheio

e perscrutar o sonho da noite mal dormida

em cenas mudas na busca de um só momento em meio

a tantas outras, um filme inacabado e sem roteiro,

diálogos de uma mudez ensurdecedora

feito de sentidos vivos que fluem do espírito e da mente

abrem arquivos quase esquecidos na memória

de amores já vividos e que contam a história

dia a dia, em tempos relativos, semanas, meses, anos

todos vivem na ponta da pena a escrever diversos desenganos

versos reversos por vezes, quando a juventude fazia

querer ser mais amadurecido enquanto neste quando-hoje

gostaria tanto de ser aquele que já fui um dia, e isto canto

pelas penas que sinto de pesares tantos,

pelas alegrias, pelos risos de momentos de encanto.

São tantas as lembranças e os pensares,

que enquanto toco cada tecla, esvaem-se nos dedos,

e revelam-se na tela de meu monitor, palavras,

que são restos de vida, salvos de cada amor, palavras.

Este é meu universo, meu mundo globalizado,

onde aquilo que é errado, pode ser certo, um dia

onde aquilo que é pleno, pode ser vida vazia

onde aquilo que é espaço pode ser vácuo,

em que meu verso flutua, como você, nua,

flutuava em meus sonhos, leve, solta, ora santa

ora lasciva, em que os fronteiras como corrente

rompiam-se como somente existissem para limitar

o impossível do insondável, o louco em mim do homem saudável.

É possível, ainda, que aos poucos, como muitos, este louco

que há em mim amadureça e então, por fim, mereça

todas minhas fantasias serem mais que aquele filme

e façam-se realidades, façam-se em mim, verdades.


Mas será tarde e o coração arde ao perceber o mundo

o planeta que agora vejo de fora, longe embora destes versos.

E vejo como estrelas, as muitas rimas livres que brotaram de meu peito

e que no fundo do universo, desenham, traço perfeito, gestos lentos

além dos limites desta vida, em liberdade, a poesia mais completa:

nem seu rosto nem seu corpo nem seu jeito, mas seus sentimentos.


Quem sabe, terei então, neste outro plano, chegado, enfim, a ser poeta?

 

Autoria: Hiram Câmara
Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Todos os direitos reservados ao autor
Biblioteca Nacional

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