Pensei que já vira tudo
que de mal nos abomina.
Mas não há limite jamais.
Basta abrirmos os jornais
e há sempre algo de novo
nunca contra quem domina
mas contra tudo o que é do povo,
desde banco a tudo o mais.

Pois se antes era de todos,
como: Banco do Brasil,
e, assim, nosso, por inteiro,
passa a ser de um ou outro
brincam todos de banqueiro
todos de pires na mão,
seja banco da Maria
seja Banco do João.

Políticos roubam do erário,
estejam ou não no horário
ou de férias em seu recesso,
e, inconclusa a decisão,
ei-los todos reeleitos
sem que um só apareça
sem que o povo isto impeça,
com seus votos na eleição.

Ônibus incandescentes,
fogueiras da sociedade
acesas em bela cidade
fogos fátuos da violência.
Chamas da falência moral
inibem que um grito apareça
ou o gesto que impeça
que horror assim se faça.

Em cada esquina da vida
eis uma vida ceifada
por uma bala perdida,
em cheio, no coração.
sem que haja o que impeça,
que uma dor assim não passe
e dor maior ainda se faça,
sem dimensão que se meça.

Assaltantes, em um carro,
arrastam uma criança
por quilômetros de dor
enquanto se despedaça,
esta sociedade de barro,
sem que um guarda apareça,
sem que ninguém impeça
que horror assim se faça.

Passa o tempo, a gente passa
e as pessoas se habituam
a um cínico silogismo
"se todos assim fazem,
também eu posso fazer"
sem que saia em jornal,
É que elas se situam
acima do bem e do mal.



Autoria: Hiram Câmara
 Rio de Janeiro - RJ
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