Se o bom que a vida tem pudesse ser o permanente elo

entre seis bilhões de corações que o planeta abriga em seu anelo.

Se o bom que a vida tem fosse ouvir o que aqui apelo,

e fazer em cada um dos seis bilhões o milagre da luz de brilhar tão belo.

Se o bom que a vida tem fosse dar a cada qual a sua paz,

e o viver sem o sentir das ambições a corroer a esperança daquilo que se faz.

Seria bom ter-se o bom que a vida tem, e sonhar com a luz de sol tão radiante

se os ratos não comessem aos nacos, as riquezas do erário, em finos pratos,

e os porcos não mais se chafurdassem na mentira e na podridão dos falsos planos,

e os tubarões não rasgassem os tecidos do corpo social, apodrecido há longos anos,

e a violência maior de nosso tempo não vingasse com uma endemia de corrupção

que dia a dia, em doses cavalares se alastra;

haveria lugar para a esperança, e força para impedir que regressemos à Idade Média

destino a que os ventos desses dias, nos arrasta.

Mas olho ao longe, e busco perto,e o que vejo é um torpor, nada de certo,

enquanto a esperança, barco à deriva, se afasta, e o que ouço nada tem com o que vai na alma

dessa gente, em que do desespero faz-se a calma.


É quando só surdos ouvem o grito mudo: Basta!

 

Autoria: Hiram Câmara
 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Todos os direitos autorais reservados ao autor
Biblioteca Nacional
 

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