Disfarce

 

Caríssimos amigos,

Hoje, para caminhar na Beira-Mar, resolvi vestir um disfarce, vez que sempre sou interrompido por amigos e conhecidos em busca de conversa e de opiniões do"Coronel".

Coloquei um boné para esconder a careca, óculos escuros para proteger a catarata, camisa longa e folgada para despistar a protuberante barriga na frente e camuflar a pistola 9 mm atrás, caso alguém se meta a besta.

Tornozeleiras e joelheiras para compensar a velhice das articulações. Enfim, um verdadeiro espantalho do asfalto. Para os amigos, funcionou. Ninguém me deu um mísero bom dia. Estava tão camuflado que o soldado bombeiro que mede minha pressão, há dez anos, nem olhou para mim.

Com a sensação de ter atingido o objetivo e ao deparar-me com um vendedor de "quintilharias", ele foi enfático: Amigo, non te gustas? Respondí: Pero si, como non? Aproximei-me e disse: Que é isso cara? Sou cabra da peste do nosso nordeste!

Ele respondeu: Voci mi cê me adiscurpe, mas vestido desse jeito e com um andar delicado, pensei que fosse gringo. É mole?

 

Paulo Castelo Branco - Fort - Ce