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Por que não cultuamos nossos heróis?

 

Antonio Carlos Siufi Hindo

O dia 21 de abril está definido em nosso calendário como feriado civil. É uma reverência ao mártir da nossa independência política Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Teria que se constituir em um dia festivo, alegre, com ampla participação da população especialmente das nossas crianças para conhecerem melhor o líder máximo da nossa nacionalidade, o seu movimento, o que pretendia para o nosso país e para a nossa população.
Afinal, o nosso alferes encarnou para si um dos maiores desafios que um nacionalista poderia pretender. Livrar o país da dominação política de Portugal e dar aos seus concidadãos a dignidade para forjar uma pátria altiva, digna e soberana.
Não existe nos anais da nossa história um rasgo de civismo e de patriotismo tão acentuado como o capitaneado pelo alferes. Arregimentar forças contra uma metrópole poderosa econômica e militarmente não era tarefa qualquer. Contar como seu aliado as mais fortes e expressivas
lideranças do nosso mundo cultural para dar razão e sentido ao movimento libertário teria obrigatoriamente que ter um sentido muito forte para fazer avançar tamanho propósito. E tinha. O nosso alferes sonhava com o Brasil independente seguindo as mesmas pegadas das 13 Colônias Inglesas da América do Norte, que se emanciparam da metrópole, a Inglaterra, com George Washington, para se constituírem nos Estados Unidos da América do Norte.
Ali, o seu primeiro presidente determinou em seus decretos iniciais que em cada capital dos estados confederados fosse instituída uma Universidade Pública como forma de levar a todos os americanos a educação, a cultura e todos os outros instrumentos necessários para se forjar o caráter e definir a personalidade do cidadão americano.
Tiradentes também sonhou com essa conquista. Mas não foi feliz em sua empreitada de amor absoluto à sua pátria e ao seu futuro. Fracassada a insurreição, chamou para si toda a responsabilidade do movimento. Subiu ao cadafalso e perdeu sua vida na forca.
Por decreto da rainha D.Maria I foi sentenciado à morte, o seu corpo foi salgado, esquartejado e colocado nos postes públicos. Sua família declarada infame até a quarta geração. Noventa dias após a sua execução outro decreto vindo de Lisboa e da lavra da própria rainha inocentava o nosso líder. Mas já era tarde. O erro judiciário se materializava de uma forma ultrajante para todos nós.
Mas o que se questiona é a inexistência em nossas escolas, especialmente, e das nossas autoridades constituídas, em particular, de nenhum movimento no sentido de sedimentar no espírito do povo brasileiro esse sentimento de heroísmo, de civismo e de patriotismo, tão importantes para se constituir em um referencial bonito e sadio para continuarmos construindo a nossa história.
Ela é linda, rica e esplendorosa. Desde, o nosso descobrimento e em todos os desdobramentos da nossa condição de colônia, reino unido e país independente, temos uma sequência de fatos que a enriqueceram com a participação dos nossos heróis. Os irmãos Andradas, Joaquim Nabuco e todos os abolicionistas, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Caxias, Barroso, Tamandaré, o Barão de Mauá, o Barão do Rio Branco e tantos outros, nenhum deles é enaltecido ou lembrado pela nossa população.
No domingo (21), assistindo ao programa Silvio Santos, o apresentador perdeu uma oportunidade preciosa de ficar com a sua boca calada ao falar uma besteira sem nenhum fundamento quando se referiu ao nosso Tiradentes.
Disse com todas as letras que “ele foi enforcado talvez por estar endividado“, sem fazer nenhuma menção ao seu gesto de heroísmo, de civismo e de patriotismo a uma plateia ávida de informação e da própria repercussão que um esclarecimento rico a respeito do nosso líder poderia provocar nos seus telespectadores em todo o território nacional. Fiquei triste em assistir tamanha brutalidade contra a nossa história e a nossa gente.
Se quisermos ser, um país grande e importante no contexto das nações precisamos urgentemente zelar, preservar e cultivar a nossa história e a dos homens e mulheres que a construíram.
Caso contrário, continuaremos sendo uma nação sem nenhuma expressão e seremos lembrados apenas,como sendo o país do futebol e do carnaval.
É muito pouco para um país que diz ser a “sexta“ economia do mundo e que pretende ter assento no Conselho de Segurança da ONU.

Promotor de Justiça aposentado
FONTE: A2 – “O Estado MS” - Terça-feira, 23 de abril de 2013