FLUMINESE
(Carlos Eduardo Jansen)
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O Fluminense foi destino, um dia,
já que ida e volta, ali, por longo prazo,
a um só caminho um morro restringia:
ninguém chegava ao estádio por acaso.
O velho bonde da Matriz da Glória
e o coração, arrítmico motor,
um tricolor levavam a uma vitória,
também destino, enfim, do Tricolor.
Um mundo à parte, um sonho iluminado
ao sol da tarde, todo embandeirado,
eu guardo a imagem vívida de outrora.
Depois,cortaram o morro, infelizmente,
pois, pelo passo aberto a toda gente,
aqueles velhos tempos foram embora. |
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NATAL
(Carlos Eduardo Jansen) |
Natais antigos lembro com saudade,
não que, na forma, fossem diferentes
ou me animasse, então, a mocidade;
o tempo dá e leva os seus presentes.
Mas o Natal já foi festa singela
e as coisas simples ficam na lembrança,
como os sapatos postos à janela,
a mais perfeita imagem da esperança.
Pois o Natal de hoje é consumismo,
a indiferença esmaga o simbolismo
e um quadro triste vem tomando vulto:
pessoas sós, que a si e aos outros mentem,
pois no Natal simulam o que não sentem,
enquanto aguardam um incerto amigo oculto.
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SINCRETISMO
(Carlos Eduardo Jansen) |
De um céu de luz emerge o Novo Ano,
Senhor, te peço a paz e a proteção;
no meu trabalho, o esforço é desumano,
de quem me emprega faze um bom cristão,
que não persista, Marx, eterno guia,
em me negar do lucro um só tostão.
Tu prometeste o fim da mais-valia,
depois morreste, mas a História, não.
Mãe Iemanjá, das águas a guerreira,
eu quero o amor e a sorte a vida inteira,
se nada mais me deres, tudo bem.
O mar me trouxe aos pés os teus favores,
carrega o mau-olhado com estas flores,
Mãe, Saravá! Eu volto ano que vem.
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O CIRCO
(Carlos Eduardo Jansen)
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Retorno ao circo, agora tão mudado,
com lonas gastas, rotas fantasias,
um picadeiro escuro e malcuidado,
fanfarra pobre e antigas melodias.
No olhar distante e esquivo, o trapezista
revela o medo em quem já foi ousado
e a hesitação do velho equilibrista
trai muitas quedas, tantas, no passado.
A mesma arquibancada, o chão distante,
em que a serragem engole, num instante,
o que se perde à beira da voragem.
Pois volto ao circo em busca de um menino
que, sem saber, do tempo e do destino
seu coração salvou sob a serragem.
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