PAPAI DO CÉU


Quando eu era menino aqui em Fortaleza, havia um comerciante de artigos religiosos que se chamava “Papai do Céu”, apelido que ele aceitava em substituição ao próprio nome. Na sua loja, ele vendia terços e rosários, asas de anjos para procissões, missais, manuais de orações, e estátuas de santos e santas, com cúpula ou sem cúpula de vidro, santinhos, calendários religiosos, fitas de entidades religiosas (cruzados, filhos de Maria, moços católicos etc). Podia chamá-lo de Papai do Céu que ele atendia sempre com bom humor e sabedoria. Uma vez, ele teve que se ausentar, e o seu empregado – que era mais faxineiro, bom de recados e mandados – ficou no seu lugar. Por sorte ou azar do rapaz, chegou um motorista de caminhão, pelo sotaque, um carioca da gema, que pediu:
– Uma estátua de São Jorge!...
O empregado, que não sabia nomes dos santos e santas, saiu procurando e tanto demorou que enfezou o freguês. Aí, o camarada não se apertou: pegou uma estátua de São Pedro e disse, colocando-a no balcão:
– Pronto! Tá aqui o São Jorge!
-– Rapaz, tu és cego: São Jorge anda a cavalo! Não é este santo aí, não!
O sujeito não se fez de rogado: é São Jorge, sim! Você não soube o que houve? Tanto é que ele vendeu o cavalo e comprou uma Hi Lux; estão aqui as chaves da Hi Lux! 

(Pano rápido)


JOÃO BOSCO CAMURÇA