REMINICÊNCIAS

 

 

Quando eu era menino, é evidente, aprendi a ler e compreender o que lia. Mas, misturando livros que minha mãe trazia e o que lia em casa de tios e tias, fixei o seguinte panorama:

REVISTAS:
O CRUZEIRO, do magnata Assis Chateaubriand, trazia o que cito aqui: página do meio, do jornalista David Nasser; sessão de humor, o Pif-Paf, do humorista Millor Fernandes; Arquivos Implacáveis de João Pondé, sobre crítica literária; Última Página, da nossa conterrânea Rachel de Queiroz, a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, autora de O QUINZE, e fazia os seus artigos no sítio Não me Deixes, em Quixadá, sertão cearense. O Amigo da Onça, do Péricles, um sujeito que era mesmo mais amigo da Onça do que dos circunstantes...
MANCHETE – de Adolph Bloch, uma revista de atualidades; mensal.
FATOS E FOTOS – Idem, sobre reportagens fotográficas.
ERA UMA VEZ (*) -  revista infanto-juvenil a que dava orientação o “Vovô Felício”. Suas seções eram: Zé Macaco e Faustina  e suas trapalhadas cômicas. Reco-reco, Bolão e Azeitona – um menino branco, um outro muito gordo e um afro-descendente que aprontavam bastante e no fim ficavam quietos! Edição mensal.

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VIDA DOMÉSTICA – revista feminina de moda, de decoração e muitos assuntos femininos, para mulheres adultas.
VIDA INFANTIL – mesma editora, com assuntos do maior interesse para crianças. Lourolino e Remendado, uma dupla de papagaio e tartaruga, falavam em linguagem simples a História do Brasil para crianças.
VIDA JUVENIL - os assuntos principais eram histórias em quadrinhos para jovens. Numa árvore, os Lestianos lutam pelo domínio de área contra os invasores Oestianos. No final, havia paz até o próximo Almanaque ou edição.
 A COMPANHIA MELHORAMENTOS cujo slogan era “do Pinheiro ao Livro”, tinha uma coleção de historinhas cândidas, boas de ler e amar seu conteúdo: “A filha do Pescador”, uma menina que sofria com a ausência do pai pescador...! Lá em casa a coleção era quase completa por causa de minha irmã, um ano mais velha do que eu, e, portanto mais adiantada...
SELEÇÕES DO READER’S DIGEST – revista de origem americana, exibia nos seus índices de matérias, um “mix” de assuntos a gosto universal. Era mensal e ansiosamente esperada. Seus títulos mais notáveis eram: “Meu tipo inesquecível”, Piadas de Caserna, Dicionário; historinhas ao término de cada texto (**); crônica, uma história condensada com texto mais extenso, constituía uma leitura amena, que se devorava em momentos rápidos. “Seleções” oferecia coleções de contos americanos, suecos, holandeses, franceses etc, com 10, 15 ou 20 livros de capa dura. Marcou gerações, levando leitura quase que obrigatória para jovens, adultos e idosos.

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 (*) Uma versão de “O TICO-TICO”
(**) Uma historinha: 
Uma senhora idosa vinha caminhando normalmente apoiada em sua sombrinha como se bengala fosse. De repente, passa por ela, um senhor alto, forte, que a ultrapassou e, lá adiante, parou, puxou uma carteira de cigarros, o último que colocou na boca, puxou o isqueiro, acendeu, mas jogou a embalagem (carteira de cigarros) ao chão. A senhora idosa apressou o passo, chamou o cidadão, espetou a carteira amassada na ponta de sua sombrinha, e disse ao cidadão:
- Se o senhor não quer mais, Detroit (a cidade) também não quer...! E balançou a carteira espetada na sombrinha. O camarada viu que ela tinha razão: apanhou a carteira amassada e a jogou no cesto de lixo mais adiante.

 

JORNAIS – Minha mãe não gostava que a gente lesse jornais por causa dos crimes que estampavam: O Crime da Mala, do Idalino...
Uma onda de engraxates vindos de Alagoas, começou a matar seus inimigos do cotidiano que o Chefe de Polícia, mandou prender gregos e troianos e mandou jogá-los na “risca”, aquela fímbria entre o céu e o mar: quem voltasse, estava perdoado. Grande jurista ele era!
O POVO – Fundado por Demócrito Rocha em 1928, teve seus sucessores Paulo Sarasate, Creusa Rocha, Albanisa Sarasate e Demócrito Dummar. Jornal diário de grande circulação no estado, no Nordeste e podia ser encontrado até no Rio de Janeiro.
O NORDESTE – Órgão da Arquidiocese, capitaneado por Audifax Mendes e meu tio Padre André Viana Camurça. Eu e minha irmã só podíamos ir ao cinema se o Nordeste que dava os conceitos “Para adultos” (não podia ir...), Para todos (podia...!). Até que eu cresci o bastante para ter autonomia: mas este freio fazia parte da educação religiosa de minha mãe...!
UNITÁRIO e CORREIO DO CEARÁ - dos Diários e Rádios Associados, de Assis Chateaubriand. Boa circulação.


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Saiamos das Revistas e Jornais e vamos para os livros com seus autores.
MONTEIRO LOBATO – Taubaté, 18/04/1882. Óbito: 04/07/1948. Fez da literatura infanto-juvenil, a sua bandeira e criou personagens que ainda moram em nossas memórias. Eis uma lista: Dona Benta – a dona do Sítio; Emília -  a boneca de pano que ganhou vida; o Visconde de Sabugosa; Pedrinho;  e  Tia Anastácia - a cozinheira. O Marquês de Rabicó – Cuca – a vilã da narrativa; Saci Pererê. Jeca Tatu – do livro Urupês. LIVROS: Saci; Fábulas do Marquês de Rabicó; As Aventuras do Príncipe; Noivado de Narizinho; O Pó de Pirlimpimpim; Reinações de Narizinho; As Caçadas do Pedrinho; Viagem à Lua, A Chave do Tamanho; A Menina do Nariz Arrebitado; Emília no País da Gramática; Memórias da Emília; O Poço do Visconde; o Pica-pau Amarelo; A Chave do Tamanho.
ÉRICO VERÍSSIMO: com alguns títulos que ficaram gravados em nossas memórias, temos A AURORA DO MUNDO – como surgiu o planeta Terra com tudo que nele existe ainda hoje. Criou um personagem fenomenal – TIBICUERA que em língua tupi-guarani, significa “cemitério” apelido dado pelo pajé de sua tribo por ser tão magro... Pois Tibicuera é a História do Brasil. O índio acompanhou o surgimento do Brasil até os dias mais atuais. Ele viu chegarem as Caravelas de Cabral, assistiu a Primeira Missa trepado em uma árvore (quadro de Victor Meireles), acompanhou o jesuíta José de Anchieta escrevendo os seus poemas nas areias úmidas das praias do atual Espírito Santo, portanto acompanhou o crescimento do Brasil.. 
TESOURO DA JUVENTUDE – Conjunto de 18 volumes contendo uma variedade de assuntos: o Livro do Brasil (desde os descobridores, passando pela chegada da Corte Real Portuguesa com a vinda de centenas de artistas que queriam conhecer o Brasil. Foram fotógrafos, pintores, cientistas de botânica, zootecnia, tratados foram feitos sobre minerais e a atividade mineração, história que estudou com profundidade as raças que iam se chegando e se estabelecendo no Brasil. Cientistas ingleses, franceses, pintores fixavam em suas telas, minúcias e detalhes de atividades profissionais do povo que trabalhavam, comercializavam, plantavam, enfim comercializavam os seus produtos aos nobres e ricos instalados em seus castelos, vivendas, Liros dos Contos – com traduções dos mais belos contos estrangeiros:  Alice no País das Maravilhas, Gulliver; Fábulas de Esopo.
O LIVRO DAS BELAS ARTES – com reproduções, explicações sobre os mais belos quadros e seus autores / ambientes onde foram pintados, quem era tratado. O que um adolescente com alguma memória lia que se regalava com os textos, imagens e ambientes vividos pelos personagens e seus autores.

 

A leitura é o alimento do espírito”.
JOÃO BOSCO CAMURÇA