Nota de falecimento   

 


 

Machadinho 

Hoje pela manhã, um grande número de amigos compareceu ao velório do nosso amigo Machadinho, no Campo da Esperança, aqui em Brasília. Eu que estou de passagem por Brasília, me apressei em lá comparecer para um último encontro com o amigo, tão logo soube de seu falecimento. Como já poderia prever, encontrei lá muitos companheiros e amigos da ativa e da reserva, alguns que há muito não via.

Refletindo um pouco, era fácil concluir que não foi surpresa encontrar tanta gente para se despedir do velho soldado de cavalaria, acima de tudo amigo de todos.

De longe, assim que se entrava no cemitério, já era possível avistar a capela  na qual o corpo  dele estava sendo velado. Um grande aglomerado de pessoas, militares da ativa e da reserva, muitos civis, estacionamento lotado, os Dragões da Independência, com seus vistosos uniformes, formando alas, homenageando o antigo comandante dos também Dragões do 3º RCG, de Porto Alegre, era a cena que saltava aos olhos.  Assim, foi fácil descobrir o lugar onde os amigos estavam reunidos para de despedir do Gen Edson Machado.

Machadinho foi uma pessoa que deixou nome no Exército, ao qual serviu durante mais de 40 anos. O grande número de companheiros presentes ao velório, dizia tudo sobre o quanto ele era querido pelos que com ele serviram ou com ele tiveram algum relacionamento profissional, ou mesmo só o conheceram.

Ele era um daqueles sujeitos afáveis, prestativos, agregadores que só o companheirismo militar consegue elevar à sua expressão maior. Foi um cavalariano da velha estirpe, moldado nas glórias da arma montada, de cujas tradições foi sempre um ardoroso defensor. Sua trajetória no Exército foi vitoriosa, plena de sucessos, reconhecidos com sua promoção a general em 1995.

Vim trabalhar diretamente com ele na década de 90, no CMS, quando ambos éramos coronéis. Foi nesta época em que nos tornamos amigos e pude ver em toda a plenitude suas virtudes militares e seu espírito agregador que lhe conferia um carisma pessoal exclusivo.

A cena do velório, inicialmente me pareceu um pouco surrealista. Lá estavam tantas pessoas se abraçando,cumprimentando-se mutuamente, contando sobre as suas vidas, seus afazeres aos grupos ou circulando pelo local. Ao chegarem, apenas uma breve oração junto ao corpo do amigo, para logo em seguida voltar ao encontro com os demais presentes. Só mais tarde é que vim compreender que aquilo que estava ali acontecendo, retratava perfeitamente a personalidade agregadora do amigo morto. Ele estava pela última vez fazendo o que mais gostava – reunir amigos descontraidamente.

Machadinho era uma daquelas pessoas dotadas de uma visão de mundo na qual o ser humano deve buscar a felicidade encarando a vida sempre com um sentimento de boa vontade, procurando pautá-la em valores de abrangência universal.

Pessoas que buscam este caminho conseguem trazer a felicidade para próximo de si mesmas e daqueles que as cercam. Para isto, porém, precisam ser dotadas de um coração forte e generoso, capaz de perdoar, amar ao próximo, virtudes que abrem um caminho que afasta ódios, rancores e ressentimentos. Nem todos os corações daqueles dotados deste espírito são, todavia, suficientemente fortes para enfrentar o mundo vil em que vivemos.

Machadinho foi um destes. Ontem seu coração, há muito tempo debilitado, sucumbiu, marcando seu encontro com o tempo.

Lamentamos quando os amigos seguem seu caminho. Vida e morte são, porém, irmãos siameses que nos acompanham passo a passo. Cada dia saudamos mais um dia de vida, mas para todos nós dia virá em que a fatalidade não nos permitirá saudar mais um novo dia.

 

(Escrito pelo amigo e companheiro  Flávio Oscar MAURER ..........(Inf/63)

 

 

 


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