aman 62

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia


FLUMINESE
(Carlos Eduardo Jansen)
 

O Fluminense foi destino, um dia,

já que ida e volta, ali, por longo prazo,

a um só caminho um morro restringia:

ninguém chegava ao estádio por acaso.


O velho bonde da Matriz da Glória

e o coração, arrítmico motor,

um tricolor levavam a uma vitória,

também destino, enfim, do Tricolor.


Um mundo à parte, um sonho iluminado

ao sol da tarde, todo embandeirado,

eu guardo a imagem vívida de outrora.


Depois,cortaram o morro, infelizmente,

pois, pelo passo aberto a toda gente,

aqueles velhos tempos foram embora.

.................
 

NATAL
(Carlos Eduardo Jansen)


Natais antigos lembro com saudade,

não que, na forma, fossem diferentes

ou me animasse, então, a mocidade;

o tempo dá e leva os seus presentes.


Mas o Natal já foi festa singela

e as coisas simples ficam na lembrança,

como os sapatos postos à janela,

a mais perfeita imagem da esperança.


Pois o Natal de hoje é consumismo,

a indiferença esmaga o simbolismo

e um quadro triste vem tomando vulto:


pessoas sós, que a si e aos outros mentem,

pois no Natal simulam o que não sentem,

enquanto aguardam um incerto amigo oculto.

.................

 

SINCRETISMO
(Carlos Eduardo Jansen)


De um céu de luz emerge o Novo Ano,

Senhor, te peço a paz e a proteção;

no meu trabalho, o esforço é desumano,

de quem me emprega faze um bom cristão,


que não persista, Marx, eterno guia,

em me negar do lucro um só tostão.

Tu prometeste o fim da mais-valia,

depois morreste, mas a História, não.


Mãe Iemanjá, das águas a guerreira,

eu quero o amor e a sorte a vida inteira,

se nada mais me deres, tudo bem.


O mar me trouxe aos pés os teus favores,

carrega o mau-olhado com estas flores,

Mãe, Saravá! Eu volto ano que vem.

.................

 

O CIRCO
(Carlos Eduardo Jansen)

 


Retorno ao circo, agora tão mudado,
 
com lonas gastas, rotas fantasias,
 
um picadeiro escuro e malcuidado,
 
fanfarra pobre e antigas melodias.

 
No olhar distante e esquivo, o trapezista

revela o medo em quem já foi ousado

e a hesitação do velho equilibrista

trai muitas quedas, tantas, no passado.

 
A mesma arquibancada, o chão distante,
 
em que a serragem engole, num instante,

o que se perde à beira da voragem.
 
 
Pois volto ao circo em busca de um menino
 
que, sem saber, do tempo e do destino
 
seu coração salvou sob a serragem.